Ele resmunga.
- Bem, você devia querer. Não é você quem diz que me ama? Não foi você o
primeiro a dizer, a me fazer acreditar?
- Mas você sempre reclamou tanto da coisa do relacionamento de verdade,
do namorado ciumento, das amarras, dos protocolos. Eu só não queria perder você
pra uma besteira feito um título.
- Isso não faz nenhum sentido. Não conheço nenhum cara que tenha
perdido uma mulher por que oficializou as coisas. E eu ainda não entendo onde ela entrou nisso.
- Você tem medo de relacionamento sério. – E, ao ver que ela
retrucaria, ele se adianta - Não adianta negar; você sabe que é verdade. E quanto a Luana... bem, eu sou
obrigado a admitir, ela me balançou quando veio de conversinha. Quero dizer,
nós namoramos por mais de dois anos... Mas já faz tanto tempo. Ela queria dar
outra chance pra gente, levar devagar. Ela queria ver se eu tinha mudado. E eu
tinha. Por você.
- Eu não mudei você pra ela. Eu queria você pra mim.
- Eu sou seu.
- Não é. Você é nosso. E eu quero exclusividade.
- Por que você não disse antes?
- Sete meses, André! Era de se esperar que você já tivesse pegado a
dica, não?
- Mas você continuou!
Toda a expressão dela se fechou num beicinho e ela mordeu o lábio,
segurando a própria raiva. As palavras escapam, no entanto, tão doídas que
ele não conseguiu evitar alcança-la, tocando qualquer pedaço de pele que
pudesse.
Ele só queria estar com ela.
- Dói ficar longe de você. É ridículo, eu sei, mas é quase físico. É
impraticável. Eu simplesmente não consigo, ok?! Eu tento, juro que sim, mas não
adianta. Eu te dou um gelo, te ignoro por dias e fico me lembrando que é o
melhor pra mim, que eu mereço mais do que o que você me dá, mas eu sinto falta
demais da sua voz no meu ouvido, das suas ligações nos horários mais descabidos
e das suas mensagens sacanas. E eu sei que não pode ser saudável, mas é
apavorante ficar sem suas bobeiras, seu corpo perto do meu de manhã, seu café
horrível na tarde do domingo. E eu quero você, mas eu quero inteiro.
- Eu estou sempre por inteiro com você, Lú.
- Mas eu quero você sempre. Eu quero poder te ver a qualquer hora, te
ligar sem o peso de imaginar se você está com ela ou não.
- Então acabou. Acabou eu e ela, agora somos só eu e você.
- Você jura?
- Pelo que você quiser.
Ela suspira de novo, olhos fechados, expressão consternada. Ele se
aproxima mais, se arrastando devagar pela cama, passa os braços ao redor do
corpo familiar, a aperta bem sobre o peito e se certifica de que ela está bem
ali, onde ele pode alcança-la. A essa altura, depois de tanto tempo, ele já não
pode deixá-la. Não consegue.
- Diz de novo. Diz que é só a gente agora.
- Eu e você. Só eu e você.
- Só eu e você.
Ela repete, e dos olhos fechados corre uma lágrima. Mas ela acredita.
Ela sempre acredita.
E de repente, dessa vez, é de verdade.