(...)
Sinto seus olhos buscando os meus, mas não sei se já sou capaz de
mergulhar no azul sem me perder. Nunca aprendi a nadar e essa coisa de azul-mar
traz os arrepios mais loucos a minha pele. Evito-o por um segundo mais do que
ele pode aguentar. Posso escutar quando ele suspira (e guardo eu o meu suspiro,
por que o dele tem ar e peito mais que suficiente por nós dois).
“O o que eu
quero realmente saber é se você vai parar de evitar os meus olhos e me deixar
te beijar. Sabe, essas coisas que estão nas entrelinhas. Essas mensagens
simples que você não está recebendo”.
Contenho a urgência de revirar
os olhos ou dar uma risadinha. Estou nervosa, me sinto patética e muito tentada
a por meus braços em volta do seu pescoço, mandar a cautela às favas e ignorar
o fato de estarmos sentados na porta do apartamento do meu tio, nas escadas,
onde minha família pode facilmente me avistar, ralhar, fazer piadas e toda
sorte de comportamento que me deixará envergonhada por eras inteiras. Mas a
tentação é forte e eu a quero para mim, para abraça-la apertado e mostrar a ela
minha melhor cara de coragem.
Sendo assim, eu mesma aproximo nossos rostos, eu mesma colo nossos
narizes e respiro fundo a respiração que sai da gente, acaricio a pele que vai
por debaixo dos meus dedos e me deixo enlouquecer por um segundo com a
proximidade. Mantenho meus olhos abertos por uma estação a mais para observar
bem de perto o azul-água que me atraiu desde o primeiro momento, e finalmente
me jogo no mar profundo dos lábios que tomam os meus.
E nosso peito eclode em risadas antes mesmo que eu sinta palpitar o
coração que bate por baixo. Por algum motivo, rir nos parece terrivelmente
natural. Talvez seja o corredor, ou a posição, ou o modo como nossas mãos ainda
estão entrelaçadas e colocadas por dentro dos meus cachos, no meu rosto, no meu
coração. E ele me toca e eu só consigo sorrir feito boba e o azul parece
refletir em todos os lugares que eu olho. E está tudo bem. Dizem que azul dá
sorte. E é ano novo, afinal de contas.
E eu que achava que encontrar gente como a gente é - além de egoísta da minha parte, como sempre, aliás - bom. Porque estar sozinha machuca tanto quanto pode curar.
ResponderExcluirE, ah, que texto lindo. Passei algum tempo rodando pelo seu blog e fiquei abismada com... tudo. Você é ótima nisso, de escrever e se expressar.
Beijo, Thai.