(...)
- Você está apaixonado pela Ana.
A voz de Marcela diz de repente, e ele repara que ela está com o queixo
apoiado em seu ombro, os olhos focalizando exatamente as mesmas pessoas que ele
observava há segundos. Ele não responde.
- E eu estava aqui pensando que você estava mais feliz agora que o
Rodrigo está comprometido e todas as garotas ficam só pra você.
Gabriel encolhe os ombros.
- É bom.
É tudo o que ele diz.
- Mas não é o suficiente, não é? Por que a garota que você quer é a
dele.
- Mas eu não posso querer a garota dele. Ela é... bem, ela é a Ana
Julia. E ela é a namorada dele. E ele é meu amigo de infância.
- Eu não estou dizendo que você vai atacá-la enquanto ele dorme, ou que
vai se declarar e fugir com ela no meio da noite. Estou dizendo que você está
apaixonado.
Ele fica em silêncio.
- Você já sabe disso. Não é novidade pra você. Não faça essa cara de
choque.
Ele hesita.
- Você é a primeira pessoa que percebe. Não acho que ela tenha
reparado. Nem ele, graças aos céus. Eu não sei o que eu faria. Eu não poderia
negar, não pra ele. E seria horrível, por que é uma traição, não é? É o que
vocês garotas chamam de “furar o olho”. E como eu ia viver com o cara se ele
soubesse que eu não consigo parar de pensar na garota que eu sei que ele ama?
Por que cara, eu conheço o Rodrigo há anos e eu nunca o vi tão a sério com uma
garota quanto com ela. E eu fico quase feliz por eles, por que eu sei que é de
verdade. É tão de verdade quanto seria se fosse comigo. Por que eu também a
amo.
- Bem, a gente não exatamente controla por quem a gente se apaixona,
não é?
- Qual é, Marcela, você e eu sabemos que isso não é desculpa.
Ela afasta o rosto do corpo dele, e bate de leve nas costas para que
ele se vire.
- Você é um bom amigo.
- Ah, ótimo. Todo mundo quer um amigo que fique a fim da sua namorada.
- Bem, não. Não nesse ponto. Mas você não está fazendo nada. E está
fazendo o que pode pra sair do caminho e pra esquecê-la. É o que dá pra fazer
com o que você tem nas mãos, no final das contas. Acho uma saída digna. Acho
justo com eles, que são seus amigos, mesmo que seja horrível pra você. Quero
dizer, você tem que estar doendo horrores por causa disso. Mas mesmo assim,
você faz e você aguenta em silêncio, por que você se importa com eles e com sua
relação com eles mais do que com o que vai dentro do seu próprio coração. E por
isso, eu estou te dizendo, Zé, você é um bom amigo.
(...)