15 setembro 2012

A Outra II


E eu estava ali, encarando, incapaz de mover, acompanhando sem reação enquanto você se aproximava cada vez mais, sem me dar a chance de procurar um lugar para fugir. Escutei uma voz que perguntou se eu estava bem e em seguida, reconhecendo você há não muito mais que alguns passos, perguntou se eu queria ir embora. Se eu queria dar as costas. Mas eu apenas registrava você, os mesmos olhos que eu adorava olhar, o mesmo sorriso que sempre me tirou o ar, os mesmos lábios que brincavam sobre os meus enquanto eu ria, o mesmo você pelo qual eu me apaixonara, não há tanto tempo atrás. Não há tanto tempo que eu tivesse esquecido.
E encontrar você assim ao acaso foi um baque tão grande que, nos primeiros momentos, eu não percebi que você estava acompanhado. Mas você estava. E você sorria. 
- Quem é essa?
Perguntei, esquecendo-me completamente que eu não tinha o direito. Que eu não tinha você.
- Ah... – Ele pareceu sem graça por meio minuto. E então disse fosse qual fosse o nome que aquilo tinha.
Meu coração se contraiu de forma involuntária.
- Meu nome é Liz. – Me apresentei, tão simpática que qualquer um poderia ver há quilômetros de distancia que era forçado. – Sou... – hesitei. – amiga dele.
A coisa sorriu. Acho que me deu um beijo. Não tenho certeza. Não estava prestando atenção. Estava controlando um monstro dentro de mim. Um com instintos assassinos muito, muito apurados.
Eu era amiga dele? Desde quando? Pelo que me constava, eu perdera o título com a distância. Eu perdera o sentido, o apelido, a intimidade. Eu não era muito mais do que uma estranha agora. Algo em torno de uma velha conhecida. O tempo me transformara em “companheira dos velhos tempos”. Eu já não era nada além de sombras num passado quase distante. Eu simplesmente fora. Nós fôramos, e agora era passado.
Um ciúme doentio corroeu meu peito enquanto alguém em volta de mim falava banalidades. Me senti pequena e sem valor, me senti estranhamente antiga. Tentei encarar o chão, evitando os olhares e os sorrisos que provavelmente compartilhavam segredo e sentidos. E então eu vi, claro como num pesadelo, suas mãos entrelaçadas, o ato máximo da proteção. Acompanhei, enlouquecida de dor, o carinho lento dos dedos e o segurar que, pra mim, era poesia, era amor. Meus olhos pesaram e se encheram de lágrimas que eu tentei, com custo e com o coração partido, manter lá no fundo, bem dentro de mim. Pisquei.
Mãos. Abraços. Sorrisos.
Eu ficara pra trás.
Eu ficara pro nunca mais.

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