12 julho 2012

Boa Noite.


- Eu poderia deixar você entrar e seria perfeito, eu sei que seria, como num filme preto e branco ou nos meus livros preferidos. Mas eu não vou, por que pode ser mais, eu sei que vai, e eu não quero estragar isso ainda.
  E o rosto dele repousa na curva do meu pescoço, as mãos firmes sobre a minha cintura, e a respiração sobre a minha pele é tudo o que eu preciso pra ter certeza, e eu posso sentir até no modo como me arrepio a cada inspirar e expirar.
  Ele deposita um beijo onde ele descansa, e contenho um tremor, mas meus olhos se fecham e o sorriso invade meus lábios sem qualquer convite.
- Acho que é boa noite, então?
  Ele meio pergunta, meio confirma, mas não parece contrariado e eu sei que é a decisão certa. Ele se afasta um pouco e posso ver que está sorrindo, os adoráveis olhos castanhos apertados numa careta. Suas mãos ainda não deixaram meu corpo, e me encanta sentir que ele não quer partir.
- É boa noite, sim. Até a próxima, talvez.
  E seus olhos duvidam e meu coração faz uma pausa. Não consigo escapar.
- Não, é te vejo depois, certamente.
  E ele ainda sorri, mas me analisa, e assim de perto eu sei que ele está medindo suas chances em mais um beijo - o que é um pouco bobo, depois dos tantos outros que já trocamos essa noite. Mas o cuidado, a hesitação, me toca e me conforta; por que ele se importa de também fazer disso uma coisa assim especial. Uma risada eclode em mim e eu inclino minha cabeça, como que para dar-lhe uma boa olhada.
  Ele é lindo e doce e a noite foi um sonho em cada momento. E me deitar ao seu lado na areia foi natural e simples, e meu coração pulava do momento em que entrelaçou nossas mãos até quando se inclinou para o primeiro beijo, que viraram tantos outros. E então voei pra nunca mais voltar, leve como uma adolescente, cedendo a encantos e rindo com minha paixão inocente, me deixando guiar até minha porta, mãos dadas, como num romance bobo. Eu me sentia boba. E feliz.
 E eu fecho meus olhos e aproximo nossos rostos, e nossas respirações mescladas quase me fazem desistir; ele é tão bom que tudo em mim pede um pouco mais, muito mais, de tudo o que ele tem pra dar, de tudo o que ele é. Mas respiro fundo e posso sentí-lo fazer o mesmo, e eu sei que é igual para nós dois; que é algo mais pra nós dois.
  As próximas palavras me deixam como que sozinhas, e eu sinto que nós concordamos com elas:
- Só mais um beijo, então.
 E então só existem nossos lábios, e as línguas parecem sincronizadas, e por um minuto (ou vários) aquilo é tudo, mas nossos corpos se afastam como que por conta própria, aos poucos, e então somos apenas lábios e mãos, gentilmente unidas no espaço que nos separa. Nos deixamos finalmente e ele me sorri doce e tranquilo, mas posso quase ver seu coração batendo descontrolado por baixo do peito, um espelho fiel demais do meu, que eu tento controlar apenas para não parecer afobada, infantilmente apaixonada. Mas nenhum de nós se deixa enganar.
- Boa noite, então.
 Ele diz, simplesmente. Eu concordo, apenas para manter meu silêncio (e guardar o momento). Solto uma de minhas mãos das suas e tateio meu bolso pelas minhas chaves, separando sem ver a que vai abrir a porta da frente. Seus olhos não deixam os meus um minuto.
- Você vai me ligar, certo? Pra gente fazer alguma coisa. Qualquer dia desses, ou sei lá.
- Qualquer dia desses, é.
  Ele repete, um sorriso maroto no rosto. Eu rio e indico minha porta, pronta, finalmente, para deixá-lo ir.
- Tchau.
  Ele aperta de leve a minha mão que ainda segura, e aí a solta, colocando imediatamente as próprias nos bolso, parecendo muito a vontade. Eu sopro um beijo e dou um único passo, ainda de costas, e com um ultimo sorriso me viro e destranco minha porta, entrando em casa de uma vez, pra não me deixar desistir (já cheguei tão longe). Quando estou fechando-a, posso vê-lo pelo vão, caminhando pela calçada, passos regulares, um andar satisfeito. Ainda estou sorrindo quando viro a chave na tranca.
  Tive tempo apenas de deixar minha bolsa na mesa quando meu telefone rompe a quietude da noite e eu me sento no sofá para atendê-lo. Não perco meu tempo listando as possibilidades: poderia ser qualquer uma das minhas amigas querendo detalhes, ou meus amigos querendo conselhos ou ainda meus pais me reivindicando para um almoço de domingo. Meu telefone não sabe mais o que é parar, independente da hora - e já era um tanto tarde.
- Oi, oi.
  Atendo, contentamento escapando pela minha voz.
- Oi. - A voz responde, e meu sorriso se expande. - Hoje é qualquer dia, certo? E eu posso te chamar pra me ver de novo amanhã, certo? Pra  gente fazer alguma coisa. Talvez até mesmo depois de amanhã também. Eu tenho essa sensação de quem quer passar muito tempo com você.
- Oh.
 Posso ouví-lo sorrir. Eu me encolho, tocada pela lembrança.
- Soa como um plano?
 Na verdade, tudo em mim soa como felicidade. E eu ainda não consegui parar de sorrir.
- É um plano, sim. É um plano muito bom.



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