Era estranho pensar em quanta dor ela carregava. Ela era tão pequenina. Tão criança. E quando usava seus vestidos coloridos, como hoje, parecia ainda mais inocente que de costume. Mas era só se aproximar um pouco e contemplar os olhos castanhos pra encontrar a verdade. Ela era menina crescida, mulher vivida, cheia de cicatrizes e memórias. A que escapa pelo vestido, no joelho, é só mais uma de muitas. Muitas marcas pra um corpo tão pequeno. Muita dor. E o sorriso era falso, cansado, cheio de lágrimas que corriam por trás, por dentro, onde ninguém devia ver. Mas eu podia vê-las descendo, rolando rosto abaixo, como se ela fosse feita de vidro. Aquela menina, tão pequena, frequentemente inocente, pra mim é transparente. E eu estendo minhas mãos, inútil, sem saber o que fazer. Ah, pequenina, não chora. Não chora que a dor não passa.