17 outubro 2009

Na soleira da porta.

Ela abriu a porta de casa e a primeira coisa que viu foi o conhecido contorno das costas magras que ela tanto admirava. Um susto e um sorriso.
Uma saudade.
A única coisa que ele foi capaz de dizer quando a viu foi "Oi". Ao vê-la, seus olhos quase se arregalaram e sua boca quase se abriu num pequeno ''Oh'' de surpresa. E ele realmente foi pego de surpresa, realmente esperava que ela já não estivesse lá. Que ela já não esperasse por ele. Um susto e uma não-expressão.
Uma dúvida.
E depois de tantos meses de ausência infinita, ela definitivamente esperava por algo mais. Que o encontro fosse mágico. Que as palavras fossem poucas, mas precisas, devido somente, e tão somente, ao calor do momento. Ao abraço e aos beijos que ocupariam todos os segundos do doce reencontro.
Mas ali estavam, parados frente a frente, ela com o sorriso que esmorecia e ele com a mesma expressão surpresa que criara no primeiro segundo, no primeiro fio do cabelo loiro que ele conseguiu enxergar na soleira da porta.
Ela tossiu de leve, como quem pedia que ele falasse. Ele coçou a cabeça, sem jeito e sem palavras. Balbuciou alguma coisa sobre não esperar vê-la, ao que foi prontamente respondido com um sorriso e um brincalhão "moro aqui". Ele pensou sobre isso. Fazia sentido. E ela permaneceu em silencio, observando sua confusão e sua linha aparente de pensamento. Afinal, ela era óbvia: ele acreditara que ela havia partido.
E então? Ele não a queria mais? Ele arranjara alguém? Ele jogara fora todo o seu amor? E ela? Ela que queria pular sobre ele. Queria beijá-lo. O queria. E o quis por tanto tempo, com tanta afeição, com tanta saudade. E ali estava ele, inalcançável. Distante e sem jeito como um estranho que se encara no metrô.
Ela queria chorar. E ela iria. Mas não ali, no lugar que acalentava até agora, até o presente segundo, o amor imenso que dividiram antes de sua partida. De sua não-volta.
E então, quase que por um segundo inteiro, os olhares se encontraram.
Meia volta. Fora de casa. Da sua própria casa. Da casa deles.
Um sussurro. Uma desculpa. Uma única lágrima.
"A gente se fala depois. Eu... acho que volto amanhã".
E saiu.

2 comentários:

  1. Essa falta de ação gera além de desilusão, muitos mal entendidos e faz com que muitas coisas que poderiam ter acontecido, sejam boas ou ruins, nao aconteçam. Que droga não?

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  2. Ficou muito bonito o texto! O reencontro é muito bom, o adeus, não. Beijos ja te sigo (:

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agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


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