- O que você
acha que está fazendo?
- Beijando
você.
Meus olhos
se arregalam, mas não sou capaz de negar você assim tão de perto. E como da primeira
vez, me perco num mundo em que somos só eu e você e os segundos em que meus olhos
se fecham duram algumas eras. É o inferno.
- Achei que
a gente não ia mais fazer isso. Achei que você ia voltar com a sua namorada.
- Mas você é
bonita demais.
- Cala a
boca.
- E é mais
que isso também. Você sabe.
- Para, por
favor.
- Eu vou
embora amanhã. Eu não quero ir pensando que eu devia ter feito isso.
- E como
isso pode ser justo?
- Nunca foi
justo. Eu sempre tive data pra ir embora. – Minha expressão desanima e ele
sorri aquele sorriso maroto que eu me acostumei a odiar nas duas semanas que
passamos juntos. Ele acaricia meu rosto, a expressão dele quase curiosa, quase
doce. – Você queria que eu ficasse mais?
- Não. Na
verdade, estou louca pra você ir embora. – Eu digo, rebelde, mas ele pousa os
lábios sobre os meus e o sorriso enfurecedor me desarma por completo.
- Mesmo? –
Ele está brincando comigo, eu sei, mas eu não consigo evitar ceder um pouquinho.
Ou muito.
- Talvez. Ah,
cara, eu odeio você.
- Nah, que
nada. Você não teria vindo todo dia de tão longe se não gostasse de mim.
- Eu só não queria
que você ficasse sozinho, por que seria uma droga. E eu ia me sentir meio mal.
Então eu meio que fiz por mim, eu juro. Por que eu sou uma pessoa legal.
- Claro que
é. – Ele concorda, os lábios agora descendo pelo meus pescoço, mandando todas
as vibrações erradas pelo meu corpo. – Mas você gosta de mim. Pode admitir, eu
sou o seu tipo.
- Baixinho e
convencido? Não são os meus preferidos.
Eu arrisco,
mas você não me dá atenção. Você não está prestando atenção em nada que não seja
pele, na verdade.
- Não
adianta negar, você veio todos os dias.
- Você é um
babaca, sabe. – Eu digo, e você concorda com a cabeça, braços ocupados em me
abraçar bem perto. – Meio que doeu meu ego quando você explicou as coisas da
primeira vez. Eu me senti idiota. Um pouco usada.
- Desculpa.
Eu gostei de você, e eu meio que precisava da companhia.
- Eu sei. –
Minhas mãos já não estavam exatamente me obedecendo, cruzando meus braços ao
seu redor e se entranhando no seu cabelo sem ordem específica. Era familiar
demais. – Foi por isso que eu continuei vindo. Além do que, você não era uma
companhia tão terrível, e eu estava de férias.
Ele se
afasta um pouco pra me olhar nos olhos, mas ao o suficiente para que nossos braços
larguem o abraço um do outro. Não faz maravilhas a minha já danificada linha de
raciocínio.
- Então, você
gosta de mim?
- É, é.
Eu admito, e
o sorriso que se estende em seu rosto é tão convencido que eu me arrependo de
ter aberto a boca – mas também me faz querer beijá-lo, então fico em silêncio.
- Então
vamos fazer isso. É minha última noite, minha última chance de ficar com você.
Eu não quero desperdiçar.
- Mas...
- A gente vê
o resto depois, isso é agora. Última chance. Última noite. Você e eu.
E é errado e
eu não devia, mas ele está tão per e é só por essa noite – a última noite – e eu
não consigo resistir. Meus olhos se fecham, eu nos aproximo e o beijo e me
perco sem dar muito atenção pra seja lá o que minha mente diz. Suspiro.
- Por que é
seu aniversário. Por que eu nunca vou te ver de novo. Uma noite.
- Uma noite.
Ele repete,
os olhos absurdos resplandecendo e eu não sei mais identificar o que é
sanidade. A ideia até me assusta. Mas ele sorri, e quem se importa?
Nossos
lábios não se deixam a noite toda, e a mao dele na minha sente tao familiar que
machuca um pouco. Mas é a última noite, então eu aproveito, e peço mais uma
dose.
É a última
vez, afinal de contas.