Ele queria estar um pouco mais perto.
Ele queria estar dentro.
A noite avança, mas ela não para. Ela é energia pura e em certo momento
já não se atém mais a mesa; passeia por entre as cadeiras com tanta
naturalidade quanto se estivesse em casa, abraçando conhecidos e se perdendo
nos olhos de amigos de longa data. Troca segredos e carinhos e afagos e mãos
que tocam os ombros com tantos dos seus, que ele se sente um pouco abandonado,
apesar dele mesmo tê-la evitado por grande parte da noite, se esquivando de
seus olhares, seus encontros.
Mas ele morre de ciúmes.
Ele procura não olhar.
E quando ela finalmente chega, radiante, com seu sorriso e seu amor e
seus segredos escapando por debaixo dos olhos brilhantes, ele não a evita e a convida
para ficar por perto e passa os braços ao redor da cintura familiar, como se
pudesse mantê-la consigo pra sempre. Mas ela é tão inquieta, ela é tão faceira
que em pouco tempo já voltou ao caminhar e ele tem de deixa-la ir, por que não
há nada que ele aprecie mais do que vê-la voar, pousando ao redor da mesa com
um pássaro de verão, de passagem, de canto doce e olhos de chocolate. Mas ela
volta, antes mesmo que ele tenha a chance de se acostumar com sua ausência, e
ele não consegue evitar mais um vez puxar seus braços para seus arredores,
tomando seu abraço entre o pescoço, ficando confortável onde pertence, mesmo
que dessa vez seu corpo repouse em outros corpos. Ele pode ver seu sorriso de
língua entre os dentes distribuindo segredos nos ouvidos das amigas, ele vê as
próprias amigas oferecendo-lhe um colo, como guardiãs, como quem cuida de uma
boneca. Mas ela não é boneca, é de carne, e ele quer estar entre ela, perto
dela o tempo todo. E ele não sabe bem o que fazer pra ficar. Ele não sabe se
tem direito de pedir.
Mas aí
quando ela levanta e se prepara para alçar seu voo, talvez pra sempre, ele age
por impulso: as mãos seguram a dela, segura o corpo, traz pra perto. Ele a
abraça, meio sem jeito, sem ângulo, sem porquê, ele a abraça por que ela cheira
tão bem e ele quer tê-la tão perto que qualquer outra coisa sente errado. E ela
pausa, mas as mãos voltam e ela o abraça e ele não se preocupa mais com nada.
Está tudo bem.
Ele está com ela.