28 setembro 2012
Bordô.
(E parece que) Minha passividade vem se tornando agressiva. E meu tempo vem acabando, e os problemas vão pingando e meu corpo vai desistindo devagar, fechando os olhos por um segundo ou dois, para um descanso eterno que eu bem queria. Eu bem topava. E tudo o que é pequeno me tira do sério e eu ando chorando dores antigas e detestando velhos amores, velhas lembranças e esperanças que se partiram (e me levaram junto). Ando recriminando símbolos. Ando guardando mágoas. Ando respirando fundo e dosando minhas palavras. Ando me sentindo pouco e vivendo pela metade. Ando sofrendo por trás de sorrisos. Ando fingindo (bem menos, mas fingindo). E agora me pego sem saber o que dizer. É que eu não sei mais descrever o que é vermelho como antigamente. Não sei mais fazer sair de mim como fazia antigamente. Não sei mais fazer voltar ao castanho como antigamente. E agora é pedir por um pouco de paz, é fingir que tá tudo bem, é não me deixar chorar, não me deixar ruir, não querer e não conseguir (e as vezes eu quero, as vezes eu só quero que acabe. mas nunca vai embora). E agora é o que eu sou, é o que dá pra fazer, é o sorriso que dá pra sair. Não me pede mais. Não hoje. Não agora. Não nunca (Deixa pra mim a tarefa de me colar. Deixa que eu vou me domar).
24 setembro 2012
Dois Cafés e uma lembrança.
Era quinta-feira e já fazia um ano, mas a rotina fazia parte dela, tanto quanto ele um dia fizera, e ela não conseguia evitar; quando dava por sí era 23 e lá estava ela, dois copos de café, o mesmo canto do bar, e o coração cheio daquela esperança que esmagava. E ela esperava por uma hora antes de lembrar que nunca mais ele e ela naquele bar (ou qualquer outro lugar). E embora devessem, as lágrimas nem sempre vinham, mas a tristeza era tanta ao recordar que ela poderia ficar mais uma hora inteira que fosse sentada naquele banco de sempre, encarando a parede com olhos antigos, olhos vividos, olhos sofridos. Olhos de uma saudade que pra sempre viveria no peito, apertada contra a respiração, tentando se fazer confortável, já que não ia mesmo partir. E era quinta-feira e já fazia um ano, mas ela sempre esperava que ele voltasse, mesmo já sabendo que nunca mais. Ele se fora, ele quisera, ele partira, e ela ficara pra trás, sozinha com seu café, o bar e a lembrança, e aquela saudade que machucava até o ultimo pedacinho de sua esperança. É que, no final da contas, ele partira pra longe demais e tudo o que restara à ela era mesmo aquele café, agora, gelado, um orgulho partido e um amor que ia morrer dentro do peito, que a tornaria estéril, frígida e infeliz. E ela suspirava e pensava nele com tudo de sí bem ali, enquanto ainda podia, por que quando saísse pela porta sabia bem que deveria esquecê-lo de novo. E talvez a rotina a trouxesse de volta num outro 23, numa outra quinta-feira, na calada da noite, num domingo de manhã, como eles faziam quando sentiam vontade um do outro e saudade daquela paixão que costumava consumir até a alma. Mas ele jamais voltaria, ele partira pra sempre, e ela ficara pra trás, ficara pra agora, ficara. E assim, sabendo bem, sabendo melhor, se resignando ao adeus, ao menos por agora, joga umas moedas na mesa e encara o café intocado, que era pra ele, mas que ele jamais beberia. E suspira, e se recolhe, e não se deixa chorar por que é a vida, e chegou a hora - já fazia um ano, afinal. É a hora dela partir também.
ps: isso foi escrito pra alguma pauta do bloinquês de muito tempo atrás, mas, por um motivo ou outro eu provavelmente perdi o prazo, eu não postei.
19 setembro 2012
Céu Azul (O dia que deu errado)
Hoje não tinha uma só nuvem, hoje só tinha sol e eu saí de casa com o peito embrulhado em esperança (como é que eu ia saber que ia dar tudo errado?). E eu sorri pela manhã e eu cantei canções e eu falei de amor e escrevi sobre fazer valer a pena e eu respirei bem fundo e fechei meus olhos e acreditei (e, sério, não tinha como ser pior).
E eu falhei e eu sofri e eu chorei e eu duvidei, e tentei me apagar de mim e esquecer, por que doía no peito, mais que nunca, aquela dor de estar perdida e não ter valor. Mas, ao que parece, nem das minhas tristezas eu tenho o direito de escapar (por que, é claro, sempre pode ser pior).
E agora todo o meu desprezo é pra mim. Eu o mereço mesmo. E a lâmina que amolei por horas, enquanto remoía minhas palavras e meus atos e minhas faltas, é pra mim que ela aponta. E a dor, e o destino, e o acaso, tudo conspira, tudo me faz tropeçar. Nem me ajudar eu consigo. Eu me saboto. Eu me destruo (por que consigo fazer tudo pior, mesmo quando parece que já não há como).
E foi céu azul o dia todo, foi dia claro, foi esperança, foi brisa fresca de verão e sorrisos por todos os lados em que eu não estava. É que, no fim das contas, não acho mesmo que azul seja minha cor.
E eu falhei e eu sofri e eu chorei e eu duvidei, e tentei me apagar de mim e esquecer, por que doía no peito, mais que nunca, aquela dor de estar perdida e não ter valor. Mas, ao que parece, nem das minhas tristezas eu tenho o direito de escapar (por que, é claro, sempre pode ser pior).
E agora todo o meu desprezo é pra mim. Eu o mereço mesmo. E a lâmina que amolei por horas, enquanto remoía minhas palavras e meus atos e minhas faltas, é pra mim que ela aponta. E a dor, e o destino, e o acaso, tudo conspira, tudo me faz tropeçar. Nem me ajudar eu consigo. Eu me saboto. Eu me destruo (por que consigo fazer tudo pior, mesmo quando parece que já não há como).
E foi céu azul o dia todo, foi dia claro, foi esperança, foi brisa fresca de verão e sorrisos por todos os lados em que eu não estava. É que, no fim das contas, não acho mesmo que azul seja minha cor.
15 setembro 2012
A Outra II
E eu estava ali, encarando,
incapaz de mover, acompanhando sem reação enquanto você se aproximava cada vez
mais, sem me dar a chance de procurar um lugar para fugir. Escutei uma voz que
perguntou se eu estava bem e em seguida, reconhecendo você há não muito mais
que alguns passos, perguntou se eu queria ir embora. Se eu queria dar as
costas. Mas eu apenas registrava você, os mesmos olhos que eu adorava olhar, o
mesmo sorriso que sempre me tirou o ar, os mesmos lábios que brincavam sobre os
meus enquanto eu ria, o mesmo você pelo qual eu me apaixonara, não há tanto
tempo atrás. Não há tanto tempo que eu tivesse esquecido.
E encontrar você assim ao acaso
foi um baque tão grande que, nos primeiros momentos, eu não percebi que você
estava acompanhado. Mas você estava. E você sorria.
- Quem é essa?
Perguntei, esquecendo-me
completamente que eu não tinha o direito. Que eu não tinha você.
- Ah... – Ele pareceu sem graça
por meio minuto. E então disse fosse qual fosse o nome que aquilo tinha.
Meu coração se contraiu de
forma involuntária.
- Meu nome é Liz. – Me apresentei, tão simpática
que qualquer um poderia ver há quilômetros de distancia que era forçado. – Sou...
– hesitei. – amiga dele.
A coisa sorriu. Acho que me deu um beijo. Não tenho certeza. Não
estava prestando atenção. Estava controlando um monstro dentro de mim. Um com
instintos assassinos muito, muito apurados.
Eu era amiga dele? Desde
quando? Pelo que me constava, eu perdera o título com a distância. Eu perdera o
sentido, o apelido, a intimidade. Eu não era muito mais do que uma estranha
agora. Algo em torno de uma velha conhecida. O tempo me transformara em
“companheira dos velhos tempos”. Eu já não era nada além de sombras num passado
quase distante. Eu simplesmente fora. Nós fôramos, e agora era passado.
Um ciúme doentio corroeu meu
peito enquanto alguém em volta de mim falava banalidades. Me senti pequena e
sem valor, me senti estranhamente antiga. Tentei encarar o chão, evitando os
olhares e os sorrisos que provavelmente compartilhavam segredo e sentidos. E
então eu vi, claro como num pesadelo, suas mãos entrelaçadas, o ato máximo da
proteção. Acompanhei, enlouquecida de dor, o carinho lento dos dedos e o
segurar que, pra mim, era poesia, era amor. Meus olhos pesaram e se encheram de
lágrimas que eu tentei, com custo e com o coração partido, manter lá no fundo,
bem dentro de mim. Pisquei.
Mãos. Abraços. Sorrisos.
Eu ficara pra trás.
Eu ficara pro nunca mais.
08 setembro 2012
Hoje sou amor.
- Ando amando você.
Eu digo, peito aberto, dúvidas guardadas pra outro dia. E ele apenas me olha, sem expressão, e eu não sei o que se passa nele, o que bate no seu peito, o que vai em sua mente, mas não me abalo. Não hoje, não depois de tanto tempo.
O silêncio dura um minuto inteiro (ou será que foram anos?).
- Oi, isso é rude. Não me responder, eu quero dizer.
- Eu não sei o que dizer pra você.
E isso me cala. Por que eu não sei bem o que queria escutar. Chegar aonde? Por que motivo? Eu sei (e você sabe) que a gente não é pra ser. Mas daria no mesmo não saber. Eu continuo amando você.
- Bem, eu também não sei o que você devia dizer. Obrigada? Tudo bem? Não tenho ideia. Não sei mesmo. Mas o silêncio é ruim. O silêncio é sempre sepulcral.
- O silêncio pode ser confortável, você sabe.
E eu rio, por que ele me conhece e eu me conheço, e nós dois sabemos bem que silêncio, em mim, é sempre morte. Morte de um monte de coisas.
- Pra outras pessoas, é sim. Pra mim, nem tanto.
- Bem... Obrigada. Tudo bem?
- Acho que sim.
Eu digo, incerta por um segundo. Mas não ligo muito, não hoje, não depois de tanto tempo. Meu peito está leve e eu carrego um sorriso puro, feito de mim, feito do meu coração flutuando sobre os campos. Hoje é dia se ser feliz. Hoje é dia de ser amor.
- Eu amo você também.
Ele diz assim de repente, como se não importasse, como se não fosse nada. Não é. Não pra gente. Amor sempre existiu mesmo, sorriso sempre fez parte mesmo, abraço e cuidado e carinho sempre foi coisa nossa. Amor entre a gente não é novidade. Não há nada a fazer quando há amor na gente. Sempre tem amor na gente.
- É claro que ama.
- Amo sim, você sabe. Você é minha pequena, minha risada ao telefone aos domingos, minha encrenca particular.
- Eu sou, não é?
- É, é sim.
E eu sorrio e ficamos em silêncio mais um pouco e ele me abraça de lado, só pra estarmos juntos, e eu me deixo acomodar na sua familiaridade. Ele não é lar, mas é quase, e é tão próximo que sente como soltar as malas na porta e correr pra se jogar no sofá. Ele é aquela casa de praia que me espera todo verão. Ele é meu melhor amigo e eu o amo, eu o amo, eu o amo .
- Você queria dizer mais?
Ele pergunta de repente, o braço ainda por cima de mim, o abraço ainda quente e acolhedor e cheio da gente, de sempre, do amor que hoje eu acordei sentindo com o peito valendo por mil.
- Eu sempre quero dizer mais.
- Então, na verdade, nunca quer?
- Não sei. Acho que não. Acho que sempre quero, mesmo.
- Você me ama?
- É claro que sim.
E ele se endireita, costas retas, e de repente o braço se vai e o abraço se desfaz e ele está me olhando e são os olhos de sempre nos meus olhos de sempre e eu estou mesmo amando um pouco mais dele hoje. Nos últimos dias. Nos últimos anos. Já faz tanto tempo que parece que surgiu agora. É sempre de novo com a gente, assim como é sempre amor na gente. Acho que são coisas que caminham juntas.
- Aquele amor de fundo do peito? De falta de ar?
- Claro que sim.
- E como você esperava que eu respondesse a isso?
- Você me conhece, eu não pensei tão à frente. E você não precisa responder de verdade, responder desse jeito, do verbo me dar uma resposta. Eu não sou assim tão patética. Eu só acordei amor hoje, e eu precisava dizer. Carrego há tanto tempo, que não soou errado dizer em voz alta.
- Eu não sei...
- Você é meu melhor amigo, meu despertador dos domingos, meu personal resolvedor de problemas. Não parece óbvio compartilhar com você o fato de ser amor?
- É claro que sim. Eu digo, com quem mais? Mas mesmo assim. A gente não é assim. A gente é amor, mas...
- Eu sei. E, acredite, eu não disse esperando mais de você. Esperando o mesmo amor, a mesma falta de ar. Eu disse por que é amor, e eu queria compartilhar, por que hoje eu acordei com o peito pronto pra admitir pra mim e pra você que, as vezes, sempre, é amor. E eu sei que não vai pra lugar algum, mas eu te amo mesmo assim. Me dê a liberdade de te amar e ser sua melhor amiga. Não são coisas mutuamente excludentes.
E ele continua me encarando por um outro minuto inteiro, parecendo me medir, me analisar, como quem confere se estou sã, se estou bem, se não estou me ferindo enquanto digo essas palavras que soam tão casuais. Ele está cuidando de mim, como sempre. E eu o amo mais um pouco por isso.
- Você é tão complicada...
Ele diz enquanto suspira, e sua postura relaxa e ele me beija na testa e volta a passar o braço por mim, naquele meio abraço que sente como fim de tarde no verão. E é tão confortável que eu me deixo fechar os olhos por um segundo.
- Você está mesmo bem?
Eu ouço, e por baixo da sua voz vem aquela preocupação de fim de festa, de fim de namoro, de lágrima nos olhos. Eu rio, e posso quase sentir ele relaxar.
- Eu estou ótima. Melhor do que estive em séculos.
- Tão problemática...
- Não reclama. Você me ama.
- É claro.
Ele concorda, e eu reviro meus olhos, por que, apesar da pose, eu sei que é verdade. E ele sabe e eu sei, e a gente segue em frente, meios abraços, sorrisos inteiros, as histórias de sempre e pra sempre e amor pra hoje, pra amanhã, pra pôr-do-sol, por que é assim que a gente é. Desde o começo, até o final - se um dia a gente chegar lá.
- Até porque, é sempre amor na gente.
Ele termina, como quem lê meus pensamentos, e eu me deixo sorrir, por que não há nada mais a dizer. É verdade, e a gente sabe. E não há nada a fazer, além de viver.
02 setembro 2012
(nada de) hesitação.
Se quiser beijar, beije. Não hesite, não suspire, não pense e re-pense (é só um beijo, eu juro). Só vá até lá, respire o mesmo ar, sinta no peito, sinta o momento, só o momento, aqueles segundos, aqueles milissegundos em que o mundo todo se resume apenas àquelas mãos correndo os dedos nos cabelos e beije. Beije e pronto.
(o resto depois a gente vê).
É que é melhor ser alegre que ser triste e arrependimento doí que é uma tristeza - mesmo aquele das coisas que a gente não fez.
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