16 junho 2010

Amelie.

A pequenina Amelie estava tão doente que quase já não levantava da cama. Os lençóis brancos pareciam-lhe parte do corpo, o travesseiro já parecia moldado à cabeça. O ursinho de pelúcia era sua única companhia constante. Ficava dia e noite sobre a cama, mas longe dos braços magros que queriam abraçá-lo com toda a pouca força que detinham. Mas nem isso Amelie podia. A febre, os espirros, a saúde fragil. Não, ela não podia tocá-lo. Ela não podia, sob circunstancia alguma, respirá-lo.
Os cabelos loiros caiam pelo travesseiro, sem vida. O sorriso, outrora tao presente, esmorecia mais a cada dia, e até mesmo o Sol parecia desanimado quando entrava pela janela do quarto da pequena. As paredes respondiam a ele amarelas, tristes, como quem esperavam um desastre, uma desgraça.
Os pais adoeciam com ela a cada dia, a cada espirro e a cada tarde em que a pobrezinha ardia de febre. A mãe chorava tanto que secava por horas e o pai, homem forte, já perdera mais de 3kg, apenas caminhando pela casa, perdido.
Rumo era a ultima coisa que qualquer um naquela casa tinha.
Até o cachorro da familia parecia desanimado.
O ar era pesado pelas escadas, o silencio era triste pelos comodos. Ninguem tinha confiança, ninguém detinha em si um único raio de esperança pelos cabelos loiros da pequena enferma.
Apenas uma pessoa ainda acreditava: o unico que tinha permissão para visitá-la. O menino, Austin, vinha todos os dias vê-la. As vezes, a observava dormir, as vezes conversava com ela. Quando tinha sorte, Amelie sorria. E Austin ia embora feliz.
Austin vinha, todas as tardes, para trazer sua flor. E a depositava, brilhante, sob a cama da menina. E, pouco a pouco, a cama se encheu delas.
E no pé da escada, na rua, todos os dias, mais flores. Amarelas, rosas, brancas.
Flores, múltiplas e coloridas. Vivas.
Os passantes, os amigos, as vizinhas, as doces senhoras da Igreja da esquina, todos deixavam-lhe flores todos os dias.
E na manhã de domingo, quando Amelie abriu os olhos, viu se cercada por elas. Flores, radiantes, por todos os lados, tomavam seu corpo frágil ao invés do abitual lençol amarelo opressor. E, naquela manhã, Amelie teve esperança.
E desceu as escadas engatinhando, como um bebe, enquanto os pais dormiam.
E sorriu para o cachorro, e sorriu para as paredes, que lhe respondiam com seu silêncio mais orgulhoso.
Amelie sorria.
Caminhou devagar até o hall.
A porta se abriu.
E só haviam flores.

Um comentário:

  1. Ainda não li o texto. Juro que já volto e comento sobre ele. Mas tu me encheras de felicidade com teu comentário, Thaís. Obrigado pelas palavras e pela expectativa. Vou tentar manter o ritmo de posts. Espero que goste. Dei um tempo porque, as vezes, é preciso lembrar que mais importante que escrever sentimentos é dizê-los aos seus amores... e o fiz. Agora, escrevo. Um beijo.

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agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


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