15 março 2010

Meu Primeiro Amor.


Ele correu até a casa decidido, sem nenhuma duvida sobre o quê fazia. Adentrou o quintal facilmente, ultrapassou a varanda e bateu a porta não uma, mas três vezes, com a mão firme. Estava certo. Pelo menos, até abaixar o braço, colando-o de novo ao corpo. Nesse momento, entrou em pânico.
Talvez desse sorte e ela não estivesse em casa. Mas se lembrava de ter visto as janelas abertas, então ela obviamente estava lá. Pensou em correr o caminho de volta, mas não teve tempo; antes que tivesse a chance, ela abriu a porta. Ele gelou.
Piscou duas vezes enquanto absorvia a imagem de pé na porta. Não se lembrava de Becky sendo tão bonita. O cabelo castanho estava solto, como sempre ultimamente, e isso a deixava ainda mais incrível. Era estranho estar frente a frente com ela agora. Ele perdeu as palavras por um momento e os olhos buscaram um ponto seguro pra mirar. Escolheram os tênis dela. Ele passou então a encarar o allstar vermelho como se fosse algo de incrivelmente interessante. Como se nunca o houvesse visto antes.
- Er... oi.
Ela estranhou.
- E aí, Jr?
- Tudo bem. – Ela fez que sim com a cabeça, como quem concorda. Ele não prestou atenção, embora a olhasse. Talvez o certo seja dizer que os olhos dele estavam voltados pra ela. – Você... como você está? Seu pai falou que você não quis ir ao treino, então pensei que...
- Bem, eu estou bem, quero dizer, normal. Estou usando saias, o que é decididamente estranho, mas estou legal.
E olhar dele automaticamente se desviou para as pernas dela. Ele se perguntou se era normal achá-las bonitas. Quase corou com o pensamento, e não foi capaz de levantar a cabeça novamente. Os olhos voltaram ao allstar vermelho dela – de novo.
- Os... garotos estavam perguntando se você vai voltar ao time. Sabe como é, você é muito boa.
Becky segurou um suspiro e se deixou escorar no batente da porta. As mãos percorreram rapidamente os cabelos, num gesto novo e desconhecido dela. Foi tão rápido que Jr. nem tinha certeza se acontecera mesmo. Não parecia certo nela. Ou pelo menos, não devia parecer. Mas ele só conseguia pensar no quanto o gesto caia bem nela.
- Os garotos...
Ela disse, e o tom descontente da voz dela o fez levantar os olhos. A expressão no rosto era quase a mesma da voz, descontente e quase raivosa. Era fácil perceber que ela não estava satisfeita.
- Eu... acho que eles estão sentindo a sua falta, você sabe.
- Os garotos. – Ela repetiu, no mesmo tom. – Bem, eu sempre posso visitá-los. Não é como se eu não soubesse onde todos eles moram.
- Eu acho que você devia voltar. – E ela o olhou com os olhos grandes e ele gaguejou. – Pelos garotos, e pelo seu pai também. E tem o seu tio. Todos eles estão, você sabe, contando com você.
- Na verdade, acho que não. Agora que o papai e o tio Kevin se juntaram, vão ter um monte de garotos para ocupar a minha vaga no time. – Ela disse, a cabeça novamente encostada no batente.
- Eles não vão ser tão bons.
- Bem, é claro que não. – Ela riu e ele deu alguns passos pra trás, procurando apoio. Se sentou na mureta da varanda, ainda absorvendo a explosão que o riso dela fez no seu cérebro. Ela não pareceu perceber. – Mas vou estar vigiando para garantir que a qualidade não caia muito.
- Mas eles não vão ser, você sabe, você.
- Como você é bom observador, Júnior.
Ele quase riu.
- Eu só acho que seria mais divertido se você estivesse lá.
- Eu vou estar lá, na verdade. Na torcida, como as outras meninas.
- Não é a mesma coisa. – Ele reclamou. – E você não é como as outras meninas.
Ela deu alguns poucos passos e se sentou ao lado dele, sem conseguir conter um suspiro. As mãos se abriram sobre a madeira, quase que segurando-a. O que não fazia sentido, já que Becky escalava a pilastra desde que tinha quatro anos. Não, ela definitivamente não corria o risco de cair. Não dali, pelo menos.
- Talvez esse seja o meu problema. – Ela disse a meia voz. – Talvez eu devesse. Ser como as outras garotas.
- Eu não acho que você precise parecer com elas.
- Aí é que está... eu quero.
E ele a olhou, meio de lado, quase surpreso. Ela estava ali, tão perto, que ele podia contar as sardas no rosto claro, a mão dela a centímetros da dele. E dali ele a via tão perfeita que não podia entender por que ela queria ser como qualquer outra.
- Mas não se preocupe com isso. – Ela disse, depois de um silencio estranhamente constrangedor. – Eu não acho que vá mudar radicalmente. Então não saia da linha, porque eu sempre vou ser a icebox, pronta pra acabar com você a qualquer hora.
E ela saltou da mureta para o chão delicadamente, fazendo o cabelo ondular atrás de si. Junior piscou de novo, perdido por alguns segundos. Ela virou pra ele, sorrindo de leve.
- Bem, é isso.
- É, é isso sim.
Ele confirmou.
E Becky lhe deu as costas, para dar os poucos passos de volta a sua porta. Ao perceber , ele agiu por impulso. As duas mãos seguraram a dela que ficara pra trás, virando-a, e dos lábios dele saiu um tímido “Espera”. Ela paralisou.
Os olhos deles se encontraram e ela sentiu o rosto esquentar, mas foi incapaz de fazer um movimento. Talvez fosse por que as mãos dele fossem quentes na dela, ou por que elas se encaixavam perfeitamente e ela não quisesse quebrar aquele contato. De qualquer modo, ela permanecia estática com a mão entre as dele, ouvindo o coração sair completamente do ritmo e se deixando perder no azul claro que coloria os olhos dele.
E ela não sabia por que diabos estava tão tensa, mas podia quase sentir os cabelos loiros dele refletindo nos próprios olhos castanhos. E mais que nunca, Jr. se parecia com os príncipes das histórias que a mãe contava quando ainda era viva. E ela não sabia por se sentia daquele jeito, já que mesmo com Junior, nunca havia sido tão intenso. Ela tremeu.
E ele só conseguia pensar em como era bom tê-la por perto. Os olhos dele estavam dentro dos dela, e ele registrava como castanho era lindo. Afinal, tudo nela era castanho; os cabelos, os olhos, as sardas. Uma explosão castanha bem diante dos seus olhos, segura em suas mãos. Ele não queria soltá-la nunca mais.
Desceu da mureta ainda segurando sua mão, e deu alguns passos até quase encostar o nariz no dela. Ele podia sentir a respiração quente dela, tão acelerada quanto a dele. Não tinha certeza se o coração que escutava era o dela ou o dele, mas era alto o suficiente para se fazer ouvir pelo outro. Ele não se importava. Reuniu alguma coragem para sorrir. Ela corou.
- Uma vez... – Ele começou. – Você me perguntou se fosse como as meninas da torcida eu ficaria assim com você.
Ela concordou com a cabeça, relembrando a tarde constrangedora em que tiveram tal conversa, meses atrás.
– Bem, a resposta é não. – Ele continuou, e os olhos dela se arregalaram. – Eu gosto do jeito que você é. Você é melhor que todas elas. – E ela sorriu. – E é só com você que eu quero ficar assim.
E ele não disse mais nada. Os lábios inexperientes se buscaram e se encontraram sozinhos, como que predestinados. E quando se separaram sorriram, como crianças que descobrem o primeiro amor. Eles o eram.
E naquela tarde, não disseram mais nada. Não foi preciso. Eles só sentiram. Pela primeira vez.

4 comentários:

agora é a hora em que você rabisca a sua mensagem no meu infinito pessoal :)


Layout por Thainá Caldas | No ar desde 2009 | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©