E, surpreendentemente, eu os vi lançando mão dos seus talentos na mesa da cantina do meu colégio. E quando eu cheguei perto o suficiente para tocá-los, reduzi a mim mesma a minha completa insignificância em matéria de produção artística (ou em qualquer outra matéria, só pra constar).
Um deles, o garoto, talvez o meu garoto de óculos preferido, estava pondo cores á uma mulher vinda diretamente do mundo dos sonhos. Não disse a ele, porque me encolhi, mas a beleza daquilo me tocou de diferentes formas. Quis chorar, quis sorrir ou simplesmente fechar os olhos e viajar pro mundo do qual ela saíra, correndo por alguma floreira de mãos dadas com a bela figura, como num filme de fim de tarde americano, pra nunca mais voltar.
A outra, a garota, provavelmente a criatura mais pervertida de nós escondida num rosto candido, mas ainda sim amigável, estava, pra variar, fazendo a lápis os traços de um belo casal. Na sua visão, eles estavam abraçados, entre lençóis, de modo a sugerir que entrariam em breve numa dimensão paralela que eu desconheço. Mesmo sabendo que não eram reais, tive inveja do que quer que houvesse entre eles. Eram tão reais.
Sorri.
Me permiti fazer uma piada, para disfarçar a minha falta de palavras diante daquilo que eu sabia que era muito natural - pra eles. Eles comentaram, me aninharam no seu talento, sorriram pra mim. Me senti parte do clube por um momento. E então, lembrei dos meus próprio traços desajeitados, que fazia com muito esforço quando estava entediada e sem palavras para preencher minhas folhas. E o sorriso ficou amarelo.
Fiquei feliz de jogar isso fora quando consegui apenas sentir orgulho deles. É um sentimento muito bonito, o orgulho, a alegria de testemunhar o sucesso de quem você gosta. Eu estava cheia disso, repleta de orgulho dos meus amigos talentosos e modestos.
Assim, me senti a vontade para abraçá-los e deixá-los, deixando também o monstrinho verde da inveja pra trás. Sorrindo.
Ah, como é bonito o por do sol em lápis de cor.