21 outubro 2015

Conta comigo.


- Tá tudo bem? - ele pergunta, olhos buscando por águas mais profundas de mim. Sorrio.
- Tá tudo... normal. Ás vezes eu acordo e penso que ele ainda está aqui, corpo quente ao lado do meu, mas na maioria esmagadora das manhãs, desperto sabendo bem que os lençóis são só pra mim. E isso não dói.
Ele fica em silêncio, me olha meio descrente, um sorriso simpático estampado no rosto. É tudo pena, eu sei. E eu odeio isso.
- Pode se abrir, pequena. Eu sei que dói. Separar sempre dói.
- Aí que tá, sabe? Dói não. Eu tava tão certa de como as coisas tinham que ser, do nosso vai ou racha, que não me doeu em nada rachar. Sofri muito mais enquanto tentava colar nossos pedaços, enquanto tentava descobrir se nós valíamos a pena. Eu estou mais... decepcionada. Eu achei que nós podíamos ser alguma coisa, que estávamos caminhando nessa direção do construir. Mas não estávamos. Nós não éramos nada.
- Sinto muito.
Encolho os ombros, como quem o libera das desculpas. Ele não é culpado, afinal.
- Então você não precisa que eu dê uma surra nele ou coisa assim né?
- É claro que não! - eu rio, e minha mão escapole de mim e estapeia, de leve, o peito do meu melhor amigo.
- Ah, que bom. Por que eu totalmente acho que ele ia acabar comigo. Mas eu faria um esforço, por você, é claro.
- Não é necessário bancar o machão por mim. Onde já se viu? Nem parece que me conhece...
- Eu sei, mas eu senti que devia jogar no ar assim mesmo. Oferecer um apoio e tal.
Reviro meus olhos, achando graça das bobagens dele. Eu me apoio em seu corpo, meio de lado, meio jogada, e respiro fundo, o cheiro familiar tomando por completo meus pulmões. Fecho meus olhos, e minha voz sai pequena, delicada:
- Esse apoio é suficiente, promessa.
Os braços dele se prendem ao redor de mim, conforto e segurança em sua forma mais primal. Meu melhor amigo. Meu porto seguro.
- Obrigada por passar pra ver como eu estava.
- Eu sabia que você estaria bem. Mas não ia perder a oportunidade de passar um tempinho com você.
- Você precisa mesmo arrumar mais tempo na sua agenda pra mim. É ridículo o pouco que eu tenho te visto.
-Mas eu venho quando você precisa!
Eu sorrio, tocada, e meus lábios deixam uma leve impressão sobre seus ombros.
- Obrigada.
- Toda vez que precisar.
- Obrigada.
- Eu sei que você não precisa, não na real, mas eu quero cuidar de você assim mesmo. Você é preciosa demais pra mim, pequena.
- Você é bom demais pra mim.
- Você merece, tampinha. Mesmo que seja só um pouquinho, qualquer tempo que a gente possa estar assim...
Meus olhos se enchem d'água e, sem graça, eu mordo o mesmo ombro que acabo de beijar. Ele pula, palavrões colorindo o ar ao redor de nós.
- Oi, fica calma aí! Sei que você não gosta de dividir, mas não precisa arrancar pedaço. Tem pra todo mundo.
Eu encaro os olhos castanhos de sempre, o sorriso manso, o rosto que é todo amor, sempre foi, desde que acordamos um ao lado do outro depois de beber demais num evento qualquer da faculdade.É minha vez de apertá-lo num abraço, afeição jorrando de todos os cantos de mim.
- Nah, tudo bem. O que a gente tem é suficiente. É certeza.

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