Ela já não se importava muito com as consequências das
verdades que atirava ao ar. Viver perigosamente parecia mais real, parecia mais
provável, mais fácil. Ela queria fácil. Ela queria sem dor. Estava cansada de
olhar no espelho e ver que suas próprias verdades voltavam no reflexo,
dando-lhe bofetadas no ego e na alma. Lá dentro e lá trás ela ainda era loira e
pequena e ciumenta, monstrinho verde sem futuro para além dos olhos brilhantes.
Mas ela mudou. Ela cresceu. O cabelo voltou ao castanho, os olhos brilharam
mais bonitos, o sorriso ficou genuíno e ela perdeu o medo do reflexo, da
cintura, dos braços e abraços de desconhecidos ao redor das costas, do
traseiro, dos ombros, dos cabelos. Ela cresceu e agora era divertido, era bom,
era mágico, era feito de futuro e confiança. Até a próxima queda, a próxima
depressão, a próxima surra do espelho antigo no quarto sempre fechado da casa
que ela já quase não visita. Não valia a pena. Ela era melhor agora. Ela era
melhor e podia lidar muito bem, obrigada, com suas verdades.