Ela me deixou louco, arrasado, enraivecido, vencido em todos os sentidos e extensões da palavra. Acabou com tudo o que era eu com aquele ultimo olhar, me riu uma despedida sem sentimentos e partiu, me deixando pra trás com nada além de uma saudade amarga e um desejo mal contido por mais pele, mais contato, mais dela. Ela partiu. E eu procurei, sem receio algum, amores em outras partes, que me fossem mais condescendentes, que me dessem mais do que eu queria, fosse a noite, fosse amor ou fosse conforto. Se elas tinham algo para dar eu tomava, como o péssimo cavalheiro que ela, aquela, sempre me acusou de ser. Eu nunca fui mesmo o homem dos seus sonhos. Sempre fui ocasional, o que ficava a postos, carro na esquina, esperando aquele que ela achava que a amava mais sair de casa depois de partir seu coração. Eu sempre colava os cacos, os seus pedaços, e a imunda se fazia de grata e me dava o seu amor, que era o que me mantinha de pé até então. Mas então ela cansou daquele, cansou de mim, aprendeu a juntar os próprios cacos, a se amar, a ser amada direito, por quem não a partiria. E de repente eu, que colava, perdi a função, perdi as migalhas do amor que ela sempre me dava, e que eu aceitava, grato, como se me oferecessem um banquete. Eu a amava, mas era pouco, por que ela queria mais. Não ouso nem dizer que ela queria demais. Não era. Mas ela nunca me pediu e nem me deixou oferecer. Ela não queria mais de mim. Ela queria alguém mais. E então partiu, eu fiquei, e agora se me perco em curvas que não são dela não me importo, não tenho vergonha e nem carrego culpas - só cortes. Mexi com os pedaços tempo demais pra não ter derramado meu sangue e perdido um pouco da sensibilidade. E eu fiquei bem onde ela queria que eu ficasse, onde ela talvez achasse que eu pertencesse, pagando por um pouco de amor e perdendo tempo com meia duzia de sorrisos que jamais serão inteiros, não importa o quanto eu tente colá-los, nem o quanto eu rogue para que eles completem o meu próprio riso - que já não faz barulho. E se o sofrimento passa por mim de vez em quando, ouço passos na varanda, alguém bate na minha janela, para o carro na minha esquina, mas eu não sou bobo de deixar entrar. Vai ser muito melhor se eu colar tudo sozinho. Muito mais fácil se eu fizer. Afinal, eu sei melhor do que ninguém o tamanho dos cortes que ficam na pele daquele que junta os pedaços.
21 outubro 2011
Burlesco.
Ela me deixou louco, arrasado, enraivecido, vencido em todos os sentidos e extensões da palavra. Acabou com tudo o que era eu com aquele ultimo olhar, me riu uma despedida sem sentimentos e partiu, me deixando pra trás com nada além de uma saudade amarga e um desejo mal contido por mais pele, mais contato, mais dela. Ela partiu. E eu procurei, sem receio algum, amores em outras partes, que me fossem mais condescendentes, que me dessem mais do que eu queria, fosse a noite, fosse amor ou fosse conforto. Se elas tinham algo para dar eu tomava, como o péssimo cavalheiro que ela, aquela, sempre me acusou de ser. Eu nunca fui mesmo o homem dos seus sonhos. Sempre fui ocasional, o que ficava a postos, carro na esquina, esperando aquele que ela achava que a amava mais sair de casa depois de partir seu coração. Eu sempre colava os cacos, os seus pedaços, e a imunda se fazia de grata e me dava o seu amor, que era o que me mantinha de pé até então. Mas então ela cansou daquele, cansou de mim, aprendeu a juntar os próprios cacos, a se amar, a ser amada direito, por quem não a partiria. E de repente eu, que colava, perdi a função, perdi as migalhas do amor que ela sempre me dava, e que eu aceitava, grato, como se me oferecessem um banquete. Eu a amava, mas era pouco, por que ela queria mais. Não ouso nem dizer que ela queria demais. Não era. Mas ela nunca me pediu e nem me deixou oferecer. Ela não queria mais de mim. Ela queria alguém mais. E então partiu, eu fiquei, e agora se me perco em curvas que não são dela não me importo, não tenho vergonha e nem carrego culpas - só cortes. Mexi com os pedaços tempo demais pra não ter derramado meu sangue e perdido um pouco da sensibilidade. E eu fiquei bem onde ela queria que eu ficasse, onde ela talvez achasse que eu pertencesse, pagando por um pouco de amor e perdendo tempo com meia duzia de sorrisos que jamais serão inteiros, não importa o quanto eu tente colá-los, nem o quanto eu rogue para que eles completem o meu próprio riso - que já não faz barulho. E se o sofrimento passa por mim de vez em quando, ouço passos na varanda, alguém bate na minha janela, para o carro na minha esquina, mas eu não sou bobo de deixar entrar. Vai ser muito melhor se eu colar tudo sozinho. Muito mais fácil se eu fizer. Afinal, eu sei melhor do que ninguém o tamanho dos cortes que ficam na pele daquele que junta os pedaços.
Burlesco.
2011-10-21T22:06:00-02:00
thaic.
histórias de gente que não é|
Assinar:
Postar comentários (Atom)