19 julho 2011

Quem disse? Parte 1.

  Ela corria pelos corredores, descontrolada, secando algumas das lágrimas que insistiam em rolar, abusadas, por seu rosto. Avistou um amigo no fim de um deles, sentado confortavelmente na bancada de concreto, lendo algum de seus tão constantes livros.
  Quase não podia acreditar que ele estava tão em paz com tudo, mas só quase. Ela sabia que aquele era o jeito dele, aquele jeito calmo que chegava a ser odioso de tão amável. Ele a deixava confusa, louca e completamente irritadiça, mesmo quando não estavam juntos. E ele realmente não tinha esse direito. Qual era o problema dele, afinal?
  Ela teria chamado seu nome, mas estava agitada demais. Ao invés disso, cutucou-o no ombro, e ele quase que imediatamente se levantou sorrindo, com aquele ar de quem lhe daria um abraço. Mas ela o empurrou de volta para a bancada, ainda mais irritada por ele ser agradável numa hora daquelas.
- Quem foi que disse que eu não posso ficar feliz se não for por sua causa?
- Ah?
  E a surpresa que surgiu da chegada abrupta da garota e da sua pergunta descabida ainda estava estampada em sua face nem tão inocente quando ela atropelou sua linha de raciocínio novamente.
- Então eu não tenho mais direito à felicidade? Não tenho nenhuma chance?
- Por que você não teria? – Ele perguntou, parecendo confuso.
- Por que diabos isto estaria ligado a você?
- Não sei. Por quê?
- Não se faça de sonso! Você sabe porque!
- Sei?
- Para!
  Ele se calou por um segundo, surpreso com a repentina agressividade (muito embora já estivesse quase acostumado), e ela se jogou na bancada ao lado dele, irada. Ele esperou, tranqüilo, que ela explicasse. Mas ela não parecia disposta. Ela estava possessa, possuída por uma depressão que saia do fato de que estava feliz.
- Você não vai mesmo me explicar, não é? – Ele perguntou, depois do que pareceu a eternidade para ambos. Ela suspirou.
- Eu não estou numa boa semana, é só isso.
- Porque não?
- Porque não.
- Mas eu achei que você estava feliz. Você estava tão bem... Antes. Como pode não estar numa boa semana?
- Eu estou num momento ruim então. Agora, bem agora, eu estou deprimida. E você está piorando tudo.
- Quer falar sobre isso?
- Não! Eu quero sufocar isso, mesmo que eu me sufoque junto. Eu não quero analisar a situação, eu não quero criar teorias ou porquês, eu não quero saber os motivos, o importante é que eu estou feliz. Ou estava, pelo menos.
- E como eu estou envolvido nisso?
Ela inspirou profundamente, tentando encontrar as palavras. Sem sucesso.
- Não é importante.
- É sim. Se não fosse, você não estaria aqui, ao meu lado, tentando esconder o que está pensando com tanto afinco. Você sabe que pode me dizer.
- Posso nada. – Ele riu.
- Sim, você pode. Ande logo, me diga.
Ela suspirou profundamente e virou de lado, para encará-lo. Os olhos castanhos pareciam ansiosos.
- Preste atenção.
- Estou fazendo isso.
- E não me interrompa.
- Posso fazer isso também.
- Shhh. – Ele deu uma risada e disse um “desculpe-me” sem som algum. Ela baixou os olhos para as próprias mãos, repentinamente envergonhada. E as palavras começaram a fluir.
(continua)

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