02 fevereiro 2011
Rosas.
As flores chegaram com o correio, e o carteiro sorriu quando as entregou. E eu, chocada, olhava pra ele como se fosse um extraterrestre. Ele me estendeu uma planilha pra assinar, e eu o fiz, com a mão meio mole, os olhos ainda nas flores. Rosas. Alguém me enviara rosas. Alguém, mas quem? Meus olhos correram o papel, procurando um cartão. Era claro que teria um cartão. Não é? Não. Não havia nenhum. Recebi flores, mas recebi flores de ninguém. Ora pois, por que alguém me mandaria flores? Eu não merecia flores. Eu não era ninguém. Virei-me para o carteiro, procurando uma explicação. Ele ainda sorria.
- Recebi flores.
- Eu sei, madame. - Ele disse, com um sotaque forte de gente do interior. Pisquei.
- Quem mandou?
- Não tem cartão, madame?
- Não tem cartão.
- Então não sei madame.
- Mas... mas... ninguém me manda flores.
- Alguém obviamente mandou, madame.
- Eu sei.
- Pense bem, senhora, não conhece ninguém que lhe mandaria flores?
- Não, não mesmo.
- Não conhece nenhum rapaz bonito que goste do seu sorriso, madame? Tem certeza que nenhum coração apaixonado te espera na esquina, que nenhum par de olhos vigia o seu andar?
- Eu não sei.
E meu tom de voz era um lamento.
- Ora, madame... Parece óbvio pra mim que alguém anda amando a senhora.
- Amando? Só por causa de umas flores?
- Sou homem simples, madame. Só sei de coisa simples. No meu dicionário, flor quer dizer amor.
Refleti.
- Mas entao alguém não deveria ter vindo junto com as flores? Pra sorrir pra mim um pouco e me falar de algum amor?
- Talvez alguém devesse, madame. Mas o que é o romantismo sem um pouco de misterio?
- Mistério?
- Um admirador secreto, madame. Lá na minha cidade as mocinhas novas como a senhora se desmancham por alguém que lhes ame assim em silencio, assim em presentes, assim em flores.
- Um admirador, hein... É, acho que é romantico, sim. Embora seja um pouco frustrante.
- Mas é um bom motivo pra sorrir, não é, madame?
- Sorrir?
- Ora, posso dizer pra senhora que todo homem apaixonado gosta de ver o sorriso da moça que ama. Faça esse favor pro seu admirador. Sorria. Você não acha que é por isso que esse alguém lhe enviou flores? Pra fazer seu dia um pouco mais feliz?
Refleti por um minuto antes de fazê-lo.
- É. Recebi flores. O minimo que posso fazer para retribuir é sorrir um pouco, não é? Seja quem seja, se importou pelo menos um pouco. Ou talvez um tanto.
- Estou de acordo, senhora. Além do mais, a senhora tem um sorriso muito bonito. Aposto que tem alguem por aí bem feliz por ele.
- Obrigada.
- Só faço meu trabalho, madame.
- Bom trabalho, então.
- Então boa tarde, madame.
- Boa tarde.
Ele fez uma mesura no boné do uniforme antes de me dar as costas e sair pela rua assobiando, parecendo feliz como ninguém com a rotina do mundo. E ele estava mesmo. Posso desconfiar que me ver sorrindo lembrou a ele um pouco da sua terra, da sua menina, do seu próprio amor. Ele, um carteiro comum, homem comum, não costumava tropeçar assim no amor. E o amor era tão bonito. Tão quente. Tão cheio de flores. E de sorrisos.
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eu sempre pensei que as coisas simples eram as mais bonitas. de fato, eu estava correta.
ResponderExcluirlindo ao extremo, to emocionada
ResponderExcluirhoje eu estava assistindo a uma reportagem que falava sobre o vestido de casamento da Kate Middleton e uma estilista disse algo como: o vestido só fica pronto quando a noiva olha e não consegue encontrar palavras pra descrevê-lo; esse é o vestido perfeito. lembrei disso porque estou sem palavras pra descrever esse texto. procurei, procurei e não encontrei. então que seja "perfeito", mesmo eu tendo a certeza de que essa palavra não o representa plenamente.
ResponderExcluirMaravilhoso, sme palavras pra explicar o quanto esse texto me deixou encantada.
ResponderExcluirTão singelo... O final me emocionou! ^^
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