- Quantas vezes você pensou em suicídio na ultima semana?
O analista perguntou, entediado.
- Mais vezes do que é saudável para alguém normal.
A soberba era tanta, que ele, o paciente, se considerava no direito de julgar o normal. Não era pra isso que ele, o analista entediado, estava ali, afinal?
Mas ponderou e foi quase simpático, quando questionou.
- E você se considera normal?
-Eu sei que não sou. Mas isso não me incomoda muito.
Mais do mesmo. O paciente se analisava. E ele, o profissional, observava. Suspirou, subitamente cansado demais para continuar. Suspirou cheio de si mesmo, do consultório marrom, da secretária padrão na ante-sala e do paciente sem problemas no seu divã. Suspirou, apenas.
- E eu? Sabe quantas vezes eu pensei em suicídio na última semana?
A pergunta não fazia parte do acervo usual do analista. O paciente se assustou, perdeu o compasso da própria respiração, guardou o tom amargurado que ainda ecoava nos seus ouvidos e olhou ao redor, procurando alguém mais na sala. Ninguém. O analista permanecia na mesma posição, caderneta sobre o colo, entediado. Os olhos não guardavam nenhuma chama, a respiração não carregava nenhum peso extra. Só o mesmo analista entediado de sempre com os problemas repetidos dos seus pacientes mesquinhos. O homem voltou a relaxar na sua poltrona confortável.
- Doutor, acho que estou enlouquecendo.