"Eu já te pedi para partir, para caminhar sem olhar pra trás. O que você ainda faz aqui, lábios contra meu ombro, braços ao redor de mim como se ainda me quisesse? Nós já tivemos essa conversa. Nós já demos adeus".
"Eu não quero ir embora", ele sussurra, tão baixo quanto uma carícia, e ela fecha os olhos como quem não acredita.
"Não, não é justo. Não foi o que a gente combinou".
"Muito do que aconteceu aqui não foi o que a gente combinou. Na verdade, nada disso foi como a gente planejou".
"Você brincou comigo. Não é justo agora me pedir pra voltar".
"Não é o que eu quero, tampouco".
"O que você quer de mim, então?".
E ele silencia, encolhe os ombros, a imagem da culpa e do desejo puro. Ela se sente quebrar.
"Você precisa seguir em frente. Eu não tenho o que você quer".
"Mas todas essas lembranças de você me visitam o tempo todo. Sua pele na minha. Seu corpo nos meus lençóis".
"Tudo isso ficou pra trás. Foi a escolha que fizemos quando resolvemos terminar as coisas".
"E foi uma boa escolha. Eu não podia te dar o que você queria e você queria mais".
"E agora eu não quero nada, então pode você partir. Porque você não me deixa ir? Eu não quero mais querer você".
"Não acho que seja assim que funciona".
"É a minha decisão, no entanto. Eu e você nunca mais. Foi no que eu e meu coração acordamos".
"E eu? E o que eu quero? Não serve de nada?"
"Não. O que você quer provou-se bobagem, balela. O que você quer só me machuca".
"Mas eu quero você".
"E eu quero distância".
A prova que ela precisa é apenas que ele não se abate. Ele não se dói, ele não se fere. Ele a quer, é verdade, mas é um desejo, um capricho, não uma necessidade. E ela já precisou tanto dele. Ela já respirou tanto por cima daquela pele.
"Vai embora".
"É isso o que você quer que eu faça? Tem certeza? Você pode me dizer sem titubear?"
"Vá. Embora. Eu não te aguento mais. Não aguento mais suas palavras nos meus ouvidos, não aguento mais reconhecer teu tom de voz. Não quero nada de você, nem lembrança, nem recordação, nem pele, nem toque. Eu te deixei pra trás naquele quarto mal iluminado quando eu caminhei pra longe, eu te deixei pra trás e eu não te quero de volta. E nem você me quer. Você me deseja, você me vê corpo, você me quer entre os braços, mas eu não sou boneca, eu não sou brinquedo. O que você quer de mim não faz nenhum sentido, então só te resta ir embora".
"Só espero que você não se arrependa dessa decisão. Não se arrependa de me deixar ir embora, de não me segurar firme pela mão".
"Ora, por favor. Se dê menos crédito. Você não é nem nunca foi tão incrível quanto quer fazer parecer. Sei bem do que me livro quando te digo pra partir. Então pode ir. Pode ir sem olhar pra trás. E quando bater saudade, não me procura. Não me procura nunca mais".
E agora ele se dói, seu ego se dói, seu orgulho bobo de homem no comando ganha uma rachadura e ele parte, peito estufado, o homem da relação. E ela ri, porque ela não sabe como chegou a esse ponto, ela não sabe da onde saiu esse personagem, não sabe dizer o que aconteceu com o homem de palavras doces e abraço sincero que ela um dia teve tão perto do peito. Que amou demais, e ele, de menos,
Mas não interessa. Ele se foi. Acabou.
E ela respira, aliviada.