Sento-me entre suas pernas e sinto mais do que vejo seu olhar correr minha espinha, meus ângulos, meus cantinhos. Percebo antes de sentir teu toque em meu pescoço, meus braços em teus braços e minha cabeça tomba pra trás, em repouso absoluto, em paz com o conforto que só você me traz. Não lembro quando foi a ultima vez que estivemos tão próximos e silenciosos, não me lembro a ultima vez que te senti sem te olhar nos olhos e mergulhar em cores desiguais.
Não me lembro da ultima vez que não te amava.
Hoje em dia já não nos falamos, não nos vemos, não nos reservamos momentos. Hoje em dia tudo o que tenho são brechas, pequenos momentos em que teu corpo toca o chão, como hoje, e eu me sento ao seu redor, sentindo aquecer pedaços de mim que eu nem ao menos sabia que sentiam frio. Hoje em dia eu guardo meu amor pras terças-feiras, pras segundas a noite, pros improváveis dias de folga molhados a vinho tinto e música antiga em caixas de som que chiam.
Hoje em dia nosso amor é vintage.
Sinto tua falta nos corredores de nós, sinto tua falta nas manhãs de quinta-feira e nos cafés de domingo a tarde. Sinto tua falta nas piadas, nos comerciais bobos e nas despedidas dos atores antigos que caem como moscas em dias que já não são para seus olhos. Sinto tua falta quando minha cabeça encaixa no travesseiro, sinto tua falta quando me encaixo no colchão de solteiro que, depois de anos, parece grande demais pra mim.
Eu sinto tua falta a cada respirar.
Mas agora, hoje, nesse pequeno momento, nesse 1/4 de segundo em que minha cabeça repousa sobre seu ombro e nossas respirações sincronizam, eu não sinto nada além de paz. Sua falta é presença, nosso amor é ar, e meu peito guarda o cheiro de você nos pulmões até a próxima vez em que eu possa me encaixar da onde eu nunca queria sair.
Até nosso próximo abraço.