Ele me abraça apertado, e estar entre seus braços é como a paz que já faz muito eu não sinto. Respiro pesado, respiro devagar, respiro do fundo de mim que é pra ver se ele é real, se está mesmo ali, se é de verdade que esteja tão próximo que posso tocá-lo. Sinto suas mãos em meus cabelos e contenho um suspirar.
- Você está melhor agora?
Ele pergunta, e a voz é um sussurro, um cuidado, um detalhe na nossa história de amor que nunca foi.
- Não.
Ele quase ri, posso dizer pelo seu respirar.
- Você quer que eu fique mais um pouco?
- Eu quero que você fique para sempre.
Reclamo e ele ri baixinho, o som ecoando pelo seu peito onde eu me escoro. Ele enrola uma mecha de meu cabelo entre os dedos.
- Eu vou ter que partir, eventualmente.
- Mas agora?
- Não agora. Por agora eu vou ficar com você. Vou cuidar de você.
- Mas quando você partir...
- Você vai aguentar firme e engolir o choro. É disso que você é feita. - Deixo escapar um muxoxo, e ele levanta meu rosto para que eu possa encará-lo. Quando ele fala então, a voz é séria e eu quase acredito. - Você é forte, princesa. É forte feito o aço. Você não pode ficar quebrando por causa da solidão. Tem que lembrar como é se bastar, quando eu não estiver aqui.
- Mas você vai voltar?
Ele fica em silêncio, ele fica estático, e por um segundo o medo do escuro corrói meu peito. Expulsamos o ar juntos e, por outro momento inteiro, é como navegar.
- Você sabe que eu sempre volto pra você.
- Pra gente.
Eu digo, mas me sinto débil por me agarrar com tanta força àquela pequena esperança. Posso sentir sua reprimenda no ar nosso redor.
- Mas eu quero mais pra você do que isso. Eu quero mais que sua esperança tola. E se um dia eu me for pra sempre? E se um dia eu não estiver mais aqui? Eu quero que você se mantenha de pé sem mim, princesa. Eu quero que você seja sua própria esperança.
- Mas é tão difícil. - Deixo escapar. - É tão difícil querer qualquer coisa quando você não está.
- Comece tentando. - Ele diz, e a voz é dura e os olhos são frios, metódicos, assustadores. E então ele sorri e meu mundo derrete um pouco. - Tenta por mim.
- Não. - Eu respondo, e ele cerra os olhos, como quem não entende. Minha voz não é nada além de um sussurro quando completo - Tento por mim. Por mim sem você.
E aí ele me beija, e eu rezo, baixinho, para que ele nunca vá embora.