Verificava o telefone a cada 3 minutos, por pura força do hábito, mas nunca esperara realmente que alguém ligasse. Então, levou um tremendo susto quando a
música da série favorita irrompeu pela sala, tomando seus ouvidos e fazendo
piscar o aparelho como uma discoteca. Uma breve olhada na tela lhe mostrou
apenas um número desconhecido e, desconfiada, ela o levou o celular ouvido.
- Alô?
- Oi. É a Luísa?
- É sim. Quem é aí?
- É o Alberto.
- É o Alberto.
Silêncio.
- Quem?
- Alberto, amigo do Maurício. A gente se viu na
sexta-feira, na pizzaria.
Levou um segundo refletindo.
- Ah, claro, Guilherme. Por que não disse logo. – Escutou-o
suspirar do outro lado do fone, mas não reconheceu a emoção. Alívio? Resignação,
talvez?
- É, pode ser. É o Guilherme então.
Mais silêncio.
- E então, o que foi? Pode falar.
- Eu peguei seu número com o Maurício...
- Obviamente...
- E eu queria te chamar pra gente fazer alguma coisa. Cinema
talvez. Ou um barzinho.
- Por mim pode ser, eu acho. Quando?
- Eu pensei em hoje.
- Hoje?
Sentou-se
na cama e olhou o relógio. Morando longe como morava, já era muito tarde pra
sair de casa.
- Ou talvez amanhã.
- Amanhã parece bom pra mim. Qual vai ser nossa
programação?
- Eu não sei, a gente pode decidir na hora. Conheço um
lugar bem legal pelo centro...
- Estou confiando no seu julgamento.
Ela o
escutou rir.
- Quem você chamou?
- Você.
Ficou
em silêncio por um momento.
-Só eu?
- É. Só eu e você. Isso é um problema?
- Não, eu acho. É só uma surpresa. Eu não estava esperando
por isso, certamente.
- Olha, se você não quiser ir, não tem problema...
- Não seja bobo. Vamos sair. Barzinho. Samba. Tem que ter
samba.
E a
risada gostosa dele, que ela lembrava bem de ter escutado durante toda a
sexta-feira, na pizzaria, pareceu aquecê-la um pouquinho ao ecoar pela linha.
- Tudo bem, com samba.
- Não reclama, viu. Barzinhos com sambas são sempre os mais
divertidos.
- Acredite em mim, não estou reclamando.
- Tudo bem, então... – E ela não conseguiu evitar sorrir,
por que desconfiava que não era exatamente do samba que falavam agora. – A
gente se encontra onde, então?
- Nas barcas, pode ser?
- Claro.
- Vou fazer uma reserva pra nós então.
- Ui, que fino. Eu costumo batalhar pela minha mesa como
uma boa guerreira épica.
- Vou poupar o trabalho da sua clava hoje.
- Ora, muito obrigada.
E ela sabia que ele podia escutá-la
sorrir, por que sua voz de repente estava feliz e ela se sentia patética por
deixar tanto sair. Ainda era só o telefone, só um barzinho, e ela já não
conseguia descer das nuvens.
- Nove e meia, então?
- Tudo bem por mim. Não se atrase.
- Eu sou o rei da pontualidade.
- Que bom. Por que eu sou a rainha dos atrasados, mas ainda
sim sempre consigo ficar sozinha nos pontos de encontro da vida.
- Não se preocupe, não vou te deixar sozinha.
E
aquilo soou forte demais na conversa displicente, e ela sentiu o rosto
esquentar. Agradeceu aos céus por todo o
contato ainda ser apenas uma ligação, por que ela certamente precisaria
praticar não morrer de timidez até nove e meia do dia seguinte. Suspirou.
- Tudo bem, então. A gente se vê amanhã.
- Isso aí. Boa noite.
- Boa. Tchau...
E a
voz parecia morrer, e o coração parecia sambar, e ela desligou a ligação ainda
um pouco fora do ar. Ela e ele, do sorriso, da fotografia, do nome engraçado de
senhor antigo, do apelido que era um outro nome, que ele detestava, da piada
que a fez chorar de rir na mesa. E ela sabia, ela sentia, ia ser uma boa noite.
Ia ser uma ótima noite. Ah, se ia.