15 novembro 2012

Ah, se eu vou.

Verificava o telefone a cada 3 minutos, por pura força do hábito, mas nunca esperara realmente que alguém ligasse. Então, levou um tremendo susto quando a música da série favorita irrompeu pela sala, tomando seus ouvidos e fazendo piscar o aparelho como uma discoteca. Uma breve olhada na tela lhe mostrou apenas um número desconhecido e, desconfiada, ela o levou o celular ouvido.
- Alô?
- Oi. É a Luísa?
- É sim. Quem é aí?
- É o Alberto.

      Silêncio.
- Quem?
- Alberto, amigo do Maurício. A gente se viu na sexta-feira, na pizzaria.
      Levou um segundo refletindo.
- Ah, claro, Guilherme. Por que não disse logo. – Escutou-o suspirar do outro lado do fone, mas não reconheceu a emoção. Alívio? Resignação, talvez?
- É, pode ser. É o Guilherme então.
     Mais silêncio.
- E então, o que foi? Pode falar.
- Eu peguei seu número com o Maurício...
- Obviamente...
- E eu queria te chamar pra gente fazer alguma coisa. Cinema talvez. Ou um barzinho.
- Por mim pode ser, eu acho. Quando?
- Eu pensei em hoje.
- Hoje?
      Sentou-se na cama e olhou o relógio. Morando longe como morava, já era muito tarde pra sair de casa.
- Ou talvez amanhã.
- Amanhã parece bom pra mim. Qual vai ser nossa programação?
- Eu não sei, a gente pode decidir na hora. Conheço um lugar bem legal pelo centro...
- Estou confiando no seu julgamento.
      Ela o escutou rir.
- Quem você chamou?
- Você.
      Ficou em silêncio por um momento.
-Só eu?
- É. Só eu e você. Isso é um problema?
- Não, eu acho. É só uma surpresa. Eu não estava esperando por isso, certamente.
- Olha, se você não quiser ir, não tem problema...
- Não seja bobo. Vamos sair. Barzinho. Samba. Tem que ter samba.
      E a risada gostosa dele, que ela lembrava bem de ter escutado durante toda a sexta-feira, na pizzaria, pareceu aquecê-la um pouquinho ao ecoar pela linha.
- Tudo bem, com samba.
- Não reclama, viu. Barzinhos com sambas são sempre os mais divertidos.
- Acredite em mim, não estou reclamando.
- Tudo bem, então... – E ela não conseguiu evitar sorrir, por que desconfiava que não era exatamente do samba que falavam agora. – A gente se encontra onde, então?
- Nas barcas, pode ser?
- Claro.
- Vou fazer uma reserva pra nós então.
- Ui, que fino. Eu costumo batalhar pela minha mesa como uma boa guerreira épica.
- Vou poupar o trabalho da sua clava hoje.
- Ora, muito obrigada.
      E ela sabia que ele podia escutá-la sorrir, por que sua voz de repente estava feliz e ela se sentia patética por deixar tanto sair. Ainda era só o telefone, só um barzinho, e ela já não conseguia descer das nuvens.
- Nove e meia, então?
- Tudo bem por mim. Não se atrase.
- Eu sou o rei da pontualidade.
- Que bom. Por que eu sou a rainha dos atrasados, mas ainda sim sempre consigo ficar sozinha nos pontos de encontro da vida.
- Não se preocupe, não vou te deixar sozinha.
      E aquilo soou forte demais na conversa displicente, e ela sentiu o rosto esquentar.  Agradeceu aos céus por todo o contato ainda ser apenas uma ligação, por que ela certamente precisaria praticar não morrer de timidez até nove e meia do dia seguinte. Suspirou.
- Tudo bem, então. A gente se vê amanhã.
- Isso aí. Boa noite.
- Boa. Tchau...
      E a voz parecia morrer, e o coração parecia sambar, e ela desligou a ligação ainda um pouco fora do ar. Ela e ele, do sorriso, da fotografia, do nome engraçado de senhor antigo, do apelido que era um outro nome, que ele detestava, da piada que a fez chorar de rir na mesa. E ela sabia, ela sentia, ia ser uma boa noite. Ia ser uma ótima noite. Ah, se ia.



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