26 novembro 2009
Vãs.
E eu fico me perguntando porquê você fez todas aquelas promessas, se sabia que algum dia ia acabar. E agora eu as fico repetindo na memória, vez após a outra, procurando a falha que levou tudo ao fim. E é tanta saudade, e é tanta vontade de você que não sei como proceder. Como continuar. E é tanta saudade, e são tantas lembranças e foram tantas promessas. Todas e tantas em vão. E agora, são só sussurros longínquos na minha memória. Sussurros de você. Sussuros de nós.
18 novembro 2009
Vítima, Definição.
E o ar fresco era algo bom, pra variar, já que eu e a minha realidade obscura viviamos em alguma atmosfera de puro enxofre. Eu não tinha nenhuma noção de tempo ou espaço, nem de como andava pelas ruas mortas da cidade viva, mas caminhava, guiada pelo instinto que me levava para casa todos as noites depois do meu trabalho entediante. Rotina.
Talvez ele, o instinto, fosse homicida ou suicida ou só não prezasse por coisa alguma. O fato é que naquela noite, me levou àquela ruela nua, apagada e morta. Onde eu morri. Assim, de repente, num estampido. Um estalo, um zunido e um beijo.
Beijo da morte.
E então, quente e rápido, veio o sangue. E antes que pudesse tocá-lo ou entendê-lo, a queda. E sem vida, no chão, eu percebi: era vítima. E como tal, fui prenchida por dor e gelo. Por percepção. Pelo secreto dom da observação.
Sabe Deus qual era o sentido daquilo, o porquê daquele frio, a razão daquele tiro.
E o tempo era espaço, era infinito, era angustia e eu via o sangue fluir, manchar e se espalhar.
E eu não via luzes, flashes ou alguma escuridão clichê, eu só via a rua vazia de um ângulo errado, meio de lado, e escutava alguma risada ao longe, de gente feliz. De gente que ia sobreviver aquela noite não-tão-colorida.
E eu ali, caída, vítima da corriqueira violência que nos dá bom dia pela manhã. Mais uma, eu era agora estátistica, dado, sem rosto ou sabor. Eu era indigente por definição.
Eu era a definição manchada de sangue.
Talvez ele, o instinto, fosse homicida ou suicida ou só não prezasse por coisa alguma. O fato é que naquela noite, me levou àquela ruela nua, apagada e morta. Onde eu morri. Assim, de repente, num estampido. Um estalo, um zunido e um beijo.
Beijo da morte.
E então, quente e rápido, veio o sangue. E antes que pudesse tocá-lo ou entendê-lo, a queda. E sem vida, no chão, eu percebi: era vítima. E como tal, fui prenchida por dor e gelo. Por percepção. Pelo secreto dom da observação.
Sabe Deus qual era o sentido daquilo, o porquê daquele frio, a razão daquele tiro.
E o tempo era espaço, era infinito, era angustia e eu via o sangue fluir, manchar e se espalhar.
E eu não via luzes, flashes ou alguma escuridão clichê, eu só via a rua vazia de um ângulo errado, meio de lado, e escutava alguma risada ao longe, de gente feliz. De gente que ia sobreviver aquela noite não-tão-colorida.
E eu ali, caída, vítima da corriqueira violência que nos dá bom dia pela manhã. Mais uma, eu era agora estátistica, dado, sem rosto ou sabor. Eu era indigente por definição.
Eu era a definição manchada de sangue.
13 novembro 2009
céu de três estrelas.
Todas as pessoas que faziam parte daquele céu, naquela tarde eram água. Lágrimas salgadas, tristes e completas, lágrimas de separação escorriam de todos eles. Lágrimas de adeus.
E pedidos e promessas se ouviam por todos os lados. E palavras como amizade, eterno e intenso se ouviam em todos os cantos, repetidas por todas as bocas.
Mais e mais promessas.
Mais e mais esperança, mais e mais conforto para os corações concluintes. Para aqueles que se lançavam ao alto agora, aqueles que choravam a despedida dos três anos mais intensos de sua vida. Aqueles anos médios, em que eles colecionavam estrelas para por no seu céu particular.
Cabeças e mais cabeças se aglomeravam no pátio molhado, rostos e mais rostos familiares se distanciavam para sempre.
Nunca mais seria o mesmo.
Nunca mais todos juntos, uma geração única de três estrelas.
E no meio das despedidas, uma pergunta pertinente. Uma duvida real, uma duvida cruel.
"E o que a gente vai fazer com todas as lembranças?" Uma das menores perguntou, entre lágrimas.
O uniforme branco e azul estava suado, molhado, sujo com a poeira da tristeza da despedida. Assim como todos os outros. Braços alheios se estendiam em volta dele, em abraços apertados e cheios de significados. Cheios de saudades.
"Vamos guardar nas estrelas. Nós temos três delas agora." a maior respondeu. " E nós teremos três pra sempre, nós vamos sempre ser parte da história desse céu azul de Pedro II".
"Você promete?"
"Eu não preciso. É um fato. É só olhar pra cima, para ver como existem estrelas naquele azul marinho hoje."
05 novembro 2009
Debaixo do Temporal.
Era apenas uma viagem ao interior do país, mas ele se sentiu entrando em outra dimensão. A cidade pequena, a falta de muros nos quintais bem cuidados. As crianças que corriam pelas ruas, com bolas, bicicletas e patins. Tudo aquilo era tão diferente, tão estranho que ele quase não podia aceitar. Era muito, muito longe do que ele estava acostumado. Da realidade dele.
Talvez por isso ela tivesse ido embora. Talvez fosse o motivo das plantas terem morrido, dos quadros terem caído e da falta de luz na sala de estar. Talvez. Mas, ainda que fosse, ele não podia deixar que continuasse sendo. Ele precisava dela, afinal.
E ali estava ele, longe de casa, na frente da casa que ele sabia que pertencia a ela. Ele a podia sentir em todos os detalhes. Paredes cor de rosa. Portas vermelhas. Janelas com flores. As cortinas de renda branca que ela tanto desejava colocar na sala deles, na cidade.
Ele só pode sorrir, porque aquilo era tão a cara dela. E ele sentia tanta falta. Das flores sobre a mesa, dos quadros coloridos nas paredes. Do som da risada alta de madrugada, da luz no corredor.
Na escada da entrada, uma velha senhora bordava o que parecia uma toalha. Não levantou a cabeça de seu trabalho nem por um segundo, mas era impossivel que não o tivesse percebido se aproximar. Ele estava agora muito proximo dela, da porta e de sua mulher lá dentro.
- Por favor... - E a velha senhora o olhou, conjecturando. Ele se sentiu desconfortavel sob seu olhar. Quem não se sentiria.
- Ela não está.
- Mas, eu nem ao menos tive a chance de...
- Eu sei quem é você, meu filho. - E seu tom de voz era cansado, pausado e sábio. Idoso. - E ainda que ela estivesse, eu diria que ela nao está para você. Ela não quer te ver.
- Acredito que ela terá que me dizer isso para me fazer desistir.
- Ora, ela não está. Então, vá, saia, saia.
- Eu a quero de volta, a quero comigo e não posso sair sem ela. Vou sentar no gramado e esperar, se necessário.
- Para quê? A pôs pra fora, antes de tudo.
- Jamais o teria feito. Nós discutimos num dia, e no outro ela já havia ido.
- Você a negou um pedido. Uma ínfima demonstração do que vocês tinham. Um título.
- Ela não estava sendo...
- Ela só queria ficar na tempestade com você. No precipício, ainda que fosse. E tudo o que ela pediu foi um abrigo debaixo das suas asas. Mas tudo o quê recebeu foi uma rajada de vento.
Ele parou. Os passarinhos se calaram por um instante e a voz dele saiu num fiapo. O mau tempo parecia dentro dele.
- Onde ela está?
- Sinto muito, ela caiu.
-
trecho de algo que ainda está sendo escrito x)
Talvez por isso ela tivesse ido embora. Talvez fosse o motivo das plantas terem morrido, dos quadros terem caído e da falta de luz na sala de estar. Talvez. Mas, ainda que fosse, ele não podia deixar que continuasse sendo. Ele precisava dela, afinal.
E ali estava ele, longe de casa, na frente da casa que ele sabia que pertencia a ela. Ele a podia sentir em todos os detalhes. Paredes cor de rosa. Portas vermelhas. Janelas com flores. As cortinas de renda branca que ela tanto desejava colocar na sala deles, na cidade.
Ele só pode sorrir, porque aquilo era tão a cara dela. E ele sentia tanta falta. Das flores sobre a mesa, dos quadros coloridos nas paredes. Do som da risada alta de madrugada, da luz no corredor.
Na escada da entrada, uma velha senhora bordava o que parecia uma toalha. Não levantou a cabeça de seu trabalho nem por um segundo, mas era impossivel que não o tivesse percebido se aproximar. Ele estava agora muito proximo dela, da porta e de sua mulher lá dentro.
- Por favor... - E a velha senhora o olhou, conjecturando. Ele se sentiu desconfortavel sob seu olhar. Quem não se sentiria.
- Ela não está.
- Mas, eu nem ao menos tive a chance de...
- Eu sei quem é você, meu filho. - E seu tom de voz era cansado, pausado e sábio. Idoso. - E ainda que ela estivesse, eu diria que ela nao está para você. Ela não quer te ver.
- Acredito que ela terá que me dizer isso para me fazer desistir.
- Ora, ela não está. Então, vá, saia, saia.
- Eu a quero de volta, a quero comigo e não posso sair sem ela. Vou sentar no gramado e esperar, se necessário.
- Para quê? A pôs pra fora, antes de tudo.
- Jamais o teria feito. Nós discutimos num dia, e no outro ela já havia ido.
- Você a negou um pedido. Uma ínfima demonstração do que vocês tinham. Um título.
- Ela não estava sendo...
- Ela só queria ficar na tempestade com você. No precipício, ainda que fosse. E tudo o que ela pediu foi um abrigo debaixo das suas asas. Mas tudo o quê recebeu foi uma rajada de vento.
Ele parou. Os passarinhos se calaram por um instante e a voz dele saiu num fiapo. O mau tempo parecia dentro dele.
- Onde ela está?
- Sinto muito, ela caiu.
-
trecho de algo que ainda está sendo escrito x)
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