23 novembro 2018

Indefinida.



E ela não é feita de estrela, apenas poeira, zanzando vazia pelo eco dos sonhos que já teve. Já brilhou noturna pelas vontades do peito, mas agora repousa boneca oca e sem voz. Pedaços e cacos e ideias largadas pelos arredores, pelos cantos de si e pelos cantos do mundo, espalhada sem chance de renovação.  É que ela é uma bagunça.
Seu ninho é impenetrável, confusão tanto interna quanto externa em sua pequena bolha de existência. Copos em todo o lugar pelo pequeno apartamento e almofadas multicoloridas pelo chão, como se ela fosse um gato que a qualquer momento precisa se recolher e se encolher, olhos semicerrados e membros pesados, precisando de descanso. Mas seu riso é alto e os abraços apertados e ela é tão intensa quanto é suave, e ninguém sabe como abraçar os dois lados do que ela é.
E ainda que ela tente se encaixar e ser, ela apenas flutua à deriva , gritos e lágrimas e chutes inúteis em sua birra para simplesmente ser. E ela é uma zona e ela não entende muito de si mesma, ela só empurra com a barriga e tenta ser.
Poucas palavras e seu futuro se perde, algumas letras e seus planos caem por terra. Quem sobra depois das negativas? Quem sobra das falhas, dos tropeços? Perdida em turnos, perdida em túneis, perdida.Quem é ela que não sobrou nem dos sonhos que já foi? Quem é ela que não sobreviveu aos seus tropeços?
Ninguém desenha seus contornos. Ninguém grita seu nome na noite chuvosa. Ninguém reconhece seu rosto.
Ela é ninguém.



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