05 junho 2017

Bomba Relógio.


Às vezes acho graça em como as coisas chegaram ao fim.
Eu, que sempre soube que tínhamos data pra acabar, que nunca achei que você fosse durar, que cantava, cheia de zomba, sobre como não éramos pra sempre, como você não era "o cara", me apaixonei tão boba, caí fundo demais aos seus pés.
E você, que dizia que me queria, que se enrolava ao redor do meu pescoço, que pedia desculpas por não ser capaz de me deixar fora de alcance todas as vezes em que estávamos lado a lado, foi quem me deixou de lado, quem me deixou pra trás, antes mesmo deu perceber que você de mim só queria a superfície.
É que seus olhos eram sempre tão intensos nos meus que eu não sabia mais diminuir. Acostumei a viver à toda, sempre em velocidade máxima, potência infinita, nunca parando para circundar cuidadosamente as curvas, para aproveitar a vista. Não precisava. Me acostumei a viver o borrão, a sentir o vento nos cabelos, a fechar os olhos e sentir você do lado, mão na minha, pele na pele, riso contra a minha orelha.
E eu acabo achando graça que eu, que sempre soube que nós eramos bomba-relógio, tenha me deixado abater, ainda que tardiamente, pela explosão. É que fica sempre um pouco de mim nas mãos de quem me deixa pra trás.

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